quarta-feira, 14 de maio de 2014

O Retorno do Intérprete Desacreditado

É cômico se não fosse trágico. Thamsanqa Jantjie sujou a reputação dos intérpretes de libras em dezembro do ano passado ao fingir ser intérprete no funeral de Nelson Mandela. Ao interpretar neste evento tão solene de modo tão errado, o assunto virou piada, e de mau gosto.  Vejam a reportagem traduzida do site daily mail sobre a campanha:


O homem que ganhou má fama ao redor do mundo por interpretar libras de modo errado e desagradável no funeral de  Nelson Mandela está de volta.

As interpretações absurdas de Thamsanqa Jantjie nos discursos do presidente dos EUA, Barack Obama, e dos netos de Nelson Mandela - em que interpretou uma frase como “Dê-me a tesoura”- foram manchetes pelo mundo em dezembro de 2013 pelas piores razões.


Lucrando com a notoriedade de intérprete fraudulento, uma empresa israelense já o contratou para ser o rosto do seu produto em uma nova campanha publicitária.

Na propaganda para a  Livelens, um aplicativo de transmissão de imagens on-line a qual levantou recentemente $2 milhões no EUA, o Sr. Jantjie está zombando de si mesmo."Oi, eu sou Thamsanqa Jantjie do funeral de Nelson Mandela", diz ele no início do comercial. "Acredite em mim, sou um intérprete de libras de verdade" - diz ele, com uma narração feminina interpretando a língua de sinais que ele faz “Falo em libras – só que não.”


Sr. Jantjie tem se tratado em uma clínica psiquiátrica desde seu aparecimento no funeral Mandela, e a campanha publicitária, sem dúvida, levanta questões sobre a moralidade da Livelens explorando uma pessoa com doença mental. Entretanto, o CEO da Livelens Max Bluvband tentou justificar a decisão de sua empresa dizendo que dar dinheiro para uma pessoa com a doença mental era uma coisa boa.

Segundo declarações do Sr. Bluvband para NBCNews: “Nós decidimos que o cara que teve a pior apresentação já vista ao vivo seria a melhor pessoa. No final do dia, o rapaz esquizofrênico foi pago e fez uma bela campanha ... Vemos isso como uma espécie de uma história triste com um final feliz.”

Em fevereiro, a empresa enviou um jornalista de língua Zulu para visitar a clínica psiquiátrica onde o Sr. Jantjie estava hospedado desde dezembro.Liberado por um dia para ir à um suposto “evento de família”, o anúncio foi gravado enquanto Sr. Jantjie estava fora.


  
"Estou realmente, realmente arrependido pelo que aconteceu", diz ele em uma coletiva de imprensa. A desculpa é  irônica, como é o resto do vídeo, e em seguida há um pop-out dele supostamente com a assinatura: Eu, uma celebridade. “Agora faço campanha por dinheiro”, admite.

O Sr. Jantjie não comenta a razão por trás de sua falsa interpretação em libras no funeral de Mandela durante a publicidade.

Após o incidente, o Sr. Jantjie admitiu ter tido um episódio esquizofrênico no evento. Ele alegou ter ouvido vozes e visto anjos.

Um site Sul Africano também alegou que Sr. Jantje tem acusações por estupro, roubo, arrombamento, dano malicioso a propriedade na década de 1990, além de acusações por tentativa de homicídio e seqüestro, em 2003. Muitas das acusações teriam sido descartado porque o Sr. Jantje é mentalmente incapaz de ser julgado.





domingo, 4 de maio de 2014

O que Falam das Brasileiras por a Ai


Nunca esquecerei um dia em Salamanca, Espanha quando encontrei uma colega brasileira chorosa dizendo que, ao dizer que era brasileira um espanhol chegou para ela e disse – Vamos fazer sexo! Da forma mais direta possível. Ela recusando o convite deixou-o confuso, pois ele disse  - Mas as brasileiras não são assim?

Utilizar a mulher brasileira como objeto para criar músicas, livros ou artigos de revistas não é novidade para ninguém; mas ter uma matéria escrita por uma brasileira no jornal New York Times realmente chamou minha atenção. O nome dela é Vanessa Barbara, romancista e colunista do jornal Folha de São Paulo. A primeira vista fiquei muito orgulhosa por uma escritora brasileira chamar a atenção para utilização do corpo feminino como propaganda de um país que ao mesmo tempo é miogênico, ou seja, tem uma aversão às mulheres atribuindo qualidades superiores ao sexo masculino simplesmente por serem...homens. Entretanto, alguns pontos do texto me entristeceram de alguma forma, pois a própria escritora em alguns pontos ironizou o problema. Logo pensei nas pessoas (inclusive eu) que precisam ler este artigo, por curiosidade, ou mesmo para conhecimento, afim de tomar uma posição sobre o assunto. Meu objetivo aqui não é fazer guerra dos sexos, mas principalmente  trazer para você a tradução deste texto e saber o que o mundo anda lendo sobre o Brasil, especificamente sobre este assunto. Acredite, a melhor forma de ser respeitada é respeitando a si mesma(o). Boa leitura!



A Vida Como Uma Mulher Brasileira


SÃO PAULO, Brasil - Pode um país misógino ter uma presidenta? Brasil prova que sim. Mais de três anos administrado pela presidenta Dilma Rousseff, não houve muita mudança para as mulheres brasileiras. O feminismo ainda é muitas vezes visto como um extremismo ridículo. A misoginia é racionalizada ou descartada com ironia, enquanto o estupro é banalizado ou até mesmo usado como justificativa.


Alguns anos atrás, um famoso comediante brasileiro brincou sobre a feiúra de vítimas de estupro as quais viu em protesto nas ruas. " Por que estão reclamando?", questionou. "Os homens que fizeram isso não merecem ser presos, mas abraçados".
Alguns alegaram que era apenas uma piada, mas isto claramente revela o que os brasileiros pensam sobre o assunto: deixa disso, os homens e as mulheres são iguais agora; não há necessidade de fazer tanto alvoroço.


Isto não é tudo. De acordo com uma pesquisa recente do IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 26% dos brasileiros concordam que as mulheres as quais usam roupas atraentes merecem ser agredidas. Na mesma pesquisa, 59%  acreditam que haveriam menos estupros se as mulheres soubessem como se comportarem.


A cada ano, o Brasil vende um Carnaval  hiper- sexualizado para os turistas, tratando o corpo das mulheres como uma atração nacional. O site de notícias G1 apresentou recentemente ao seus leitores um quiz: "De quem são estes seios?" Havia closes desta parte do corpo de mulheres nus ou seminus no desfile de Carnaval e os leitores tinham que adivinhar de qual celebridade pertenciam. (Eu tenho quatro respostas certas entre 10. Mas então olhei para o meus e fiquei um pouco deprimida).


A nossa nação é obcecada pela beleza e magreza à Gisele Bündchen. Brasil só perde para os Estados Unidos em número de cirurgias plásticas, com 1,5 milhões de operações por ano. Se você está um pouco acima do peso, os brasileiros comentarão; você se sentirá mal com o seu corpo e ficará pelos cantos das piscinas como um hipopótamo tímido.

Ultimamente há uma explosão de blogueiros cujas as funções são - em tese - dar dicas de saúde. Entretanto, recebem acusações freqüentes de serem pagos para fazer propaganda de produtos para perder peso, como suplementos de queima de gordura e dieta de shakes. Os sites nos dizem que uma barriga "negativa" é a chave para a felicidade.

Mas essa pressão é em grande parte direcionada às mulheres, sendo que homens enfrentam muito menos críticas sobre sua aparência. Seus salários são maiores que os nossos. Eu ganho de 35 a 50 por cento menos do que os meus colegas do sexo masculino, embora não possamos dizer com certeza se é uma questão de gênero, ou talvez  apenas falta de talento.


Considerando quanto é pago para chamar a atenção do público para as barrigas e seios por aqui e quão grande parte da indústria do turismo é construída sob a beleza brasileira, o país é estranhamente melindroso quando outros países concretizam o conceito de mulher brasileira do mesmo modo. Por exemplo, parecia um pouco hipócrita quando, recentemente, o Ministério do Turismo brasileiro disse à Adidas para parar de vender duas camisetas da Copa do Mundo por causa de suas conotações sexuais. Um delas diziam Eu amo o Brasil, onde o coração tinha o formato de nádegas com um biquíni fio-dental.  A outra camisa estava estampada uma menina de biquíni com o slogan "Pegação".

 
"Lookin' to Score" tem duplo sentido, tanto pode fazer pontos em um jogo como ter a conotação de pegação.


Em 2002, o Ministério do Turismo  também se queixou quando Os Simpsons fizeram uma sátira com o nosso país, retratando um programa infantil brasileiro com apresentadoras seminuas fazendo movimentos sensuais. (Eles também retrataram os táxis que mudaram seus letreiros para "refém" o qual foi considerado uma ofensa, apesar de, pessoalmente, ter achado engraçado). Há algumas semanas, Os Simpsons foram ao ar mais com um episódio sobre o Brasil e a Copa do Mundo; foi mostrado um monte de bandidos, autoridades corruptas e, novamente, as apresentadoras seminuas de programas infantis. Até agora não houve uma declaração oficial, mas eu não ficaria surpreso se houvesse .

Mas tudo isso não passa de notas de rodapé em comparação ao assuntos muito mais graves. Nos principais destinos turísticos como Rio de Janeiro e Salvador, a  exploração sexual, o tráfico de mulheres e a prostituição infantil são problemas urgentes. De acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, existem 250.000 crianças forçadas à prostituição no Brasil.


Mulheres sofrem diariamente contra o assédio sexual, violência doméstica e abuso emocional. Aqui em São Paulo, de acordo com as Nações Unidas, uma mulher é agredida a cada 15 segundos. Temos visto recentemente um surto de casos de assédio sexual no metrô; um grupo feminista ainda distribuiu agulhas para passageiros do sexo feminino, aconselhando-as  a se defenderem.

Além disso, um relatório do governo de 2011 concluiu que 43% de todas as mulheres sofrem algum tipo de violência em suas próprias casas. Muitas vítimas, mesmo aquelas com ensino superior, estão com muito medo de denunciar o abuso.

Mais de sete anos atrás, o governo promulgou uma lei federal aumentando a punição para a violência doméstica contra as mulheres. Desde então, a " Lei Maria da Penha" tem tido resultados positivos. O nome é de uma mulher cujo marido atirou nela, deixando-a paraplégica, em seguida, tentou eletrocutá-la quando voltava do hospital; ele permaneceu como um homem livre por duas décadas. Mas ainda há muito a ser feito.


Aqui, como em outras partes do mundo, não há nada como o nó no estômago de mulheres ao andarem sozinhas à noite, ao passar por um grupo de homens que de repente param de falar. Não há nada como ter medo de seu próprio marido. Estes são os momentos em que Dilma não nos ajuda.